04/02/10

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE ALMA E ESPÍRITO?

Existe uma infeliz confusão na mente de muitas pessoas no que diz respeito a alma e o espírito. Isto é agravado pelo fato de que em alguns idiomas e traduções da Bíblia, as palavras "alma" e "espírito" têm somente um equivalente. Fundamentalmente a "alma", que se refere a todos os constituintes de uma pessoa, algumas vezes, também refere-se ao espírito. Contudo, na Bíblia, normalmente existe uma diferença de significado entre "alma" e "espírito"; alma e espírito podem ser "divididas em partes separadas" (Hb. 4:12).
As palavras em hebraico e grego para "espírito" ("Ruach" e "Pneuma", respectivamente) também são traduzidas das seguintes maneiras:
Vida .......... Espírito
Mente ........Vento
................. Respiração
Deus usa o seu espírito para preservar a criação natural, incluindo o homem. O espírito do homem, que está dentro do homem, é, assim, a força vital dentro dele. "O corpo sem o espírito está morto" (Tiago 2:26). "Deus soprou-lhe (nas narinas de Adão) o fôlego (espírito) da vida; e o homem tornou-se alma vivente (criatura [Gn. 2:7]) ". Jó fala do "sopro de Deus" como estando "no meu nariz" (Jó 27:3 cf. Is. 2:22). O espírito da vida dentro de nós é, assim, dado ao nascer, e permanece tanto quanto nosso corpo estiver vivo. Quando o espírito de Deus é retirado de alguma coisa, isto perece imediatamente - o espírito é a força da vida. Se Deus "retirasse o seu espírito e fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó. Se há em ti entendimento, ouve isto" (Jó 34:14-16). Novamente, a última sentença dá a entender que o homem acha muito difícil concordar com esta exposição da sua real natureza.
Quando Deus retira o Seu espírito de nós na morte, não somente o nosso corpo morre, mas cessa toda a nossa consciência. O reconhecimento de Davi sobre isto levou-o a acreditar mais em Deus do que em criaturas fracas, como os homens. O Salmo 146:3-5 é um forte oponente às declarações do humanismo: "Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó (o pó do qual somos feitos); nesse mesmo dia perecem todos os seus desígnios. Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio".
Na morte, "o pó volte à terra, como era; e o espírito volte a Deus, que o deu" (Ec. 12:7). Anteriormente mostramos que Deus está presente em todos os lugares pelo Seu espírito. Neste sentido "Deus é Espírito" (João 4:24). Quando morremos, nós "damos o último suspiro", no sentido de que saiu o espírito que estava dentro de nós. Aquele espírito é absorvido pelo espírito de Deus que é tudo à nossa volta; então, na morte "o espírito volta a Deus".
Como o espírito de Deus sustenta toda a criação, este mesmo processo de morte ocorre nos animais. Homens e animais têm o mesmo espírito, ou força vital, dentro deles. "Porque o que acontece aos filhos dos homens, isso mesmo também acontece aos animais; a mesma coisa lhes acontece. Como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego (espírito); e nenhuma vantagem têm os homens sobre os animais" (Ec. 3:19). O escritor continua dizendo que não há diferença discernível quanto a onde vão o espírito dos homens e dos animais (Ec. 3:21). Esta descrição dos homens e dos animais tendo o mesmo espírito e morrendo a mesma morte parece aludir, de volta, à descrição do quanto os dois, homens e animais, que têm o espírito de vida de Deus (Gn. 2:7; 7:15), foram destruidos pela mesma morte no dilúvio: "Pereceram todos os seres viventes que se moviam sobre a terra, tanto de ave como de gado e de animais selvagens, e de todo réptil que se arrasta sobre a terra, e todo homem. Tudo o que tinha fôlego (espírito) de vida...morreu...Assim foram exterminados todos os seres" (Gn. 7:21-23). Prosseguindo, observe como o Sl. 90:5 se assemelha à morte no dilúvio. O relato em Gênesis 7 mostra claramente que, em termos fundamentais, o homem está na mesma categoria que "toda carne...toda substância viva". Isto se deve ao fato deles terem o mesmo espírito de vida dentro de si.

QUAL É O ESTADO DA PESSOA NA MORTE?

Do que aprendemos até aqui sobre alma e espírito, deve seguir que enquanto morta, uma pessoa é totalmente inconsciente. Embora as ações daqueles responsáveis perante Deus sejam lembradas por Ele (Ml. 3:16; Ap. 20:12; Hb. 6:10), não há nada na Bíblia para sugerir que nós temos qualquer consciência durante o estado de morte. É difícil argumentar contra as claras declarações seguintes, concernentes a isto:
- "Sai-lhes (do homem) o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia (momento) perecem todos os seus desígnios" (Sl. 146:4).
- "Os mortos não sabem coisa nenhuma...O seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram" (Ec. 9:5,6). Não há "sabedoria na sepultura" (Ec. 9:10) - não há pensamento e, por isso, não há consciência.
- Jó dizia que na morte, ele seria "como se nunca houvera sido" (Jó 10:18); ele viu a morte como o esquecimento, inconsciência e ausência total de existência que nós temos antes de nascer.
- O homem morre como os animais (Ec. 3:18); se, de alguma forma, o homem sobrevive conscientemente à morte, da mesma forma deveriam eles sobreviver, embora a Escritura e a ciência silenciem sobre isto.
- Deus "se lembra de que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, e como a flor do campo, assim floresce;...se vai, e o seu lugar não se conhece mais" (Sl. 103:14-16).
Que a morte é verdadeira inconsciência, mesmo para o justo, está demonstrado pelos pedidos repetidos dos servos de Deus para permitir que suas vidas sejam prolongadas, porque eles sabiam que depois da morte seriam incapazes de louvar e glorificar a Deus, entendendo que a morte era um estado de inconsciência. Ezequias (Is. 38:17-19) e Davi (Sl. 6:4,5; 30:9; 39:13; 115:17) são bons exemplos disto. Repetidas vezes a morte é referida como sono ou descanso, tanto para o justo como para o ímpio (Jó 3:11,13,17; Dn. 12:13).
Existe evidência suficiente para declararmos com franqueza que o ir a um estado de deleite e recompensa no céu, diretamente após a morte, como noção popular de justiça, simplesmente não se encontra na Bíblia. A verdadeira doutrina da morte e da natureza do homem traz um grande senso de paz. Depois de todos os traumas e dores da vida do homem, a sepultura é o lugar de total esquecimento. Para aqueles que não têm conhecimento dos requisitos de Deus, este esquecimento vai durar para sempre. Jamais, novamente, os antigos registros desta vida natural trágica e sem realização; as esperanças fúteis e os temores da mente natural humana serão percebidos, lembrados ou representarão uma ameaça.
No estudo da Bíblia existe um sistema de verdade para ser descoberto; entretanto, tristemente, também existe um sistema de erro no pensamento religioso dos homens, devido à falta de atenção à Bíblia. Os esforços desesperados do homem para aliviar a fatalidade da morte o têm levado a acreditar na "alma imortal". Uma vez que se aceite que tal elemento imortal existe dentro do homem, torna-se necessário pensar que ele deve ir a algum lugar após a morte. Isto faz considerar que na morte deve haver alguma diferença entre o destino do justo e do ímpio. Para acomodar isto, tem se concluido que deve haver um lugar para as "boas almas imortais" irem, o chamado Céu, e um outro lugar para as "almas imortais ruins" irem, o chamado inferno. Nós mostramos anteriormente que uma "alma imortal" é impossível biblicamente. As outras idéias falsas inerentes ao pensamento popular serão analisadas agora:
1. Que a recompensa para as nossas vidas é dada na morte em
forma da designação da nossa "alma imortal" a um certo
lugar.
2. Que a separação entre o justo e o ímpio ocorre na morte.
3. Que a recompensa do justo é ir para o céu.
4. Que, se todos têm uma "alma imortal", então todos devem ir
para o céu ou para o inferno.
5. Que as "almas" dos ímpios irão para um lugar de punição
chamado inferno.
O propósito da nossa análise não é apenas negativo; ao considerar estes pontos em detalhes; cremos que vamos expressar muitos elementos da verdade bíblica que são partes vitais do verdadeiro quadro com respeito à natureza do homem.

VAI HAVER RESSURREIÇÃO?

A Bíblia enfatiza que a recompensa do justo será na ressurreição, na vinda de Cristo (1 Ts. 4:16). A ressurreição dos mortos responsáveis (ver Estudo 4.8) será a primeira coisa que Cristo fará; isto será seguido pelo juízo. Se a "alma" fosse ao céu na morte, não haveria necessidade da ressurreição. Paulo diz que se não há ressurreição, então, todo o esforço para ser obediente a Deus não tem significado (1 Co. 15:32). Com certeza ele não teria pensado assim, se acreditasse que ele também seria recompensado com esta "alma" indo para o céu na morte? A indicação é que ele acreditava que a ressurreição do corpo seria a única forma de recompensa. Cristo nos encorajou com a expectativa de que a recompensa de uma vida fiel agora seria na "ressurreição" (Lucas 14:14).
Mais uma vez deve-se perceber que a Bíblia não ensina qualquer forma de existência à parte da forma corpórea - isto se aplica a Deus, a Cristo, aos Anjos e ao homem. No seu retorno, Cristo "transformará nosso corpo de humilhação, para ser conforme o seu corpo glorioso" (Fl. 3:20,21). Como ele tem, agora, literalmente, uma forma corpórea, puramente energizada pelo espírito em vez de sangue, do mesmo modo vamos nós compartilhar uma recompensa semelhante. No julgamento vamos receber uma recompensa pelo modo como vivemos esta vida na forma corpórea (2 Co. 5:10). Aqueles que viveram uma vida carnal serão deixados com o seu atual corpo mortal, que então vai apodrecer e voltar ao pó; enquanto que aqueles que, nas suas vidas tentaram vencer a mente da carne com aquela do Espírito, " do Espírito ceifarão a vida eterna" (Gl. 6:8) na forma de um corpo preenchido pelo Espírito.
Existe ampla evidência de que a recompensa do justo será na forma corpórea. Uma vez que se aceite isto, deve estar evidente a importância vital da ressurreição. Nosso corpo presente cessa claramente de existir na morte; se nós só pudermos experimentar a vida eterna e a imortalidade na forma corpórea, segue-se que a morte deve ser um estado de inconsciência, até a hora em que nosso corpo é recriado e então recebe a natureza de Deus.
O texto todo de 1 Coríntios 15 fala da ressurreição em detalhes; e sempre irá recompensar uma leitura cuidadosa. 1 Co. 15:35-44 explica que assim como uma semente é semeada e depois emerge do solo para receber um corpo por Deus, da mesma forma os mortos vão se levantar, para serem recompensados por um corpo. Assim como Cristo levantou do túmulo e teve seu corpo mortal transformado em um corpo imortalizado, também o verdadeiro crente vai compartilhar sua recompensa (Fl. 3:21). Através do batismo nos associamos com a morte de Cristo e sua ressurreição, mostrando nossa crença de que nós, também, vamos compartilhar a recompensa que ele recebeu através da sua ressurreição (Rm. 6:3-5). Ao compartilhar agora dos seus sofrimentos, também vamos compartilhar da sua recompensa: "Levando sempre (agora) por toda parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (2 Co. 4:10). "Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo Jesus vivificará também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita" (Rm. 8:11). Com esta esperança, assim nós aguardamos a "redenção do nosso corpo" (Rm. 8:23), através da imortalidade daquele corpo.
Esta esperança de uma literal recompensa corpórea foi entendida pelo povo de Deus desde os primeiros tempos. Foi prometido a Abraão que ele, pessoalmente, herdaria a terra de Canaã para sempre, com tanta certeza como ele a percorreu (Gn. 13:17; ver Estudo 3.4). Para que isto fosse possível, sua fé naquelas promessas precisava da sua crença de que este corpo iria, de algum modo, em uma data futura, reviver e tornar-se imortal.
Jó claramente expressa o seu entendimento de como, apesar do seu corpo ser comido por vermes na sepultura, ele iria, em uma forma corpórea, receber a sua recompensa: "O meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ("depois que a minha pele for destruida"), ainda em minha carne (ou forma corpórea) verei a Deus. Ve-lo-ei por mim mesmo, com meus próprios olhos, eu, e não outros. Como o meu coração anseia dentro em mim!" (Jó 19:25-27). A esperança de Isaías era idêntica: "Os teus mortos...ressuscitarão" (Is. 26:19).
Palavras muito semelhantes se encontram no registro da morte de Lázaro, um amigo pessoal de Jesus. Em vez de confortar as irmãs do homem dizendo que a sua alma tinha ido ao céu, o Senhor Jesus falou do dia da ressurreição: "Teu irmão ressurgirá". A resposta imediata de Marta, a irmã de Lázaro, mostra como os primeiros cristãos entendiam isto muito bem: "Respondeu Marta: Eu sei que ressurgirá na ressurreição, no último dia" (João 11:23,24). Como Jó, ela não entendia a morte como o portão de entrada a uma vida de glória no céu, mas, em vez disto, esperava uma ressurreição "no último dia" (cf. o "último dia" de Jó). O Senhor promete: "Todo aquele que ouve o Pai, e aprende dele...Eu o ressuscitarei no último dia" (João 6:44,45)

FALA A BÍBLIA DE JULGAMENTO DIVINO?

O ensino bíblico com respeito ao julgamento é um dos princípios da fé, que deve ser claramente compreendido antes do batismo (Atos 24:25; Hb. 6:2). Freqüentemente as Escrituras falam do "dia do julgamento" (por exemplo, 2 Pe. 2:9; 3:7; 1 João 4:17; Judas 6), uma época em que aqueles a quem foi dado o conhecimento de Deus vão receber a sua recompensa. Todos estes devem "comparecer perante o tribunal de Cristo" (Rm. 14:10); nós "devemos comparecer perante o tribunal de Cristo" (2 Co. 5:10) para receber uma recompensa das nossas vidas na forma corpórea.
Com respeito a segunda vinda de Cristo, as visões de Daniel incluiam este assento de julgamento na forma de trono (Dn. 7:9-14). As parábolas ajudam a adicionar alguns detalhes. A dos talentos compara o retorno de um patrão, que chama os seus servos e avalia de que maneira eles usaram o dinheiro que ele os deixou (Mt. 25:14-29). A parábola dos pescadores compara a chamada do evangelho a uma rede de pesca, ajuntando todos os tipos de pessoas; então o homem se assentou (cf. o assento no juízo) e separou os peixes bons dos maus (Mt. 13:47-49). A interpretação é clara: "Virão os anjos e separarão os maus dentre os justos".
Do que nós vimos até aqui, é razoável presumir que depois da volta do Senhor e da ressurreição, haverá um ajuntamento de todos que foram chamados pelo Evangelho a um certo lugar em uma certa hora, quando vão encontrar Cristo. Eles vão ter que prestar contas, e ele vai indicar se eles são ou não aceitáveis para receber a recompensa de entrar no Reino. É apenas neste ponto que os justos receberão sua recompensa. Tudo isto é reunido na parábola das ovelhas e dos bodes: "Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória (o trono de Davi em Jerusalém, Lucas 1:32,33). Todas as nações se reunirão diante dele (i.e. pessoas de todas as nações, cf. Mt. 28:19), e ele apartará uns dos outros, como um pastor aparta dos bodes as ovelhas. Ele porá as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui por herança o reino que vos está preparado" (Mt. 25:31-34).
Herdar o Reino de Deus, receber as promessas feitas a Abraão relativas a ele, é a recompensa do justo. No entanto, isto será apenas após o julgamento, que será na volta de Cristo. Assim, é impossível receber a recompensa prometida de um corpo imortalizado antes da volta de Cristo; por isso nós precisamos concluir que, da hora da morte até a ressurreição, o crente não tem nenhuma existência consciente, visto que é impossível existir em uma forma sem ter um corpo.
Um princípio bíblico que se repete é que quando Cristo voltar, então haverá a recompensa - e não antes:-
- "E quando se manifestar o Sumo Pastor (Jesus), recebereis a imarcescível coroa da glória" (1 Pe. 5:4 cf. 1:13).
- "Cristo Jesus...que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino...a coroa da justiça,... a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia" (2 Tm. 4:1,8).
- No retorno do Messias nos últimos dias, "muitos daqueles que dormem no pó da terra (cf. Gn. 3:19) ...ressurgirão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha" (Dn. 12:2).
- Quando Cristo vier em juízo, aqueles "que estão nos sepulcros...sairão; os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação" (João 5:25-29).
- "Eis que cedo venho (Jesus)! A minha recompensa está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra" (Ap. 22:12). Nós não iremos ao céu para obter a recompensa - Cristo a trará dos céus para nós.
Jesus trazendo nossa recompensa com ele, faz supor que ela foi preparada para nós no céu, mas será trazida para nós na terra na segunda vinda; nossa "herança" da terra prometida a Abraão está, neste sentido, "guardada nos céus para vós, que pelo poder de Deus sois guardados mediante a fé, para a salvação preparada para se revelar no último dia" da vinda de Cristo (1 Pedro 1:4,5).
Avaliar isto capacita-nos a interpretar corretamente uma passagem muito mal entendida em João 14:2,3: "Vou (Jesus) preparar-vos lugar. E se eu for e vos preparar lugar (cf. a recompensa "reservada no céu"), virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde estou estejais vós também". Em outro lugar Jesus diz que ele voltará novamente para nos dar nossas recompensas (Ap. 22:12), e nós vimos que estas nos serão dadas no seu trono de juízo. Ele vai reinar no trono de Davi em Jerusalém "para sempre" (Lucas 1:32,33). Ele vai passar a eternidade aqui sobre a terra, e onde ele vai estar - no Reino de Deus sobre a terra - ali nós também estaremos. Sua promessa de "nos receber para si mesmo" pode, assim, ser lida como uma descrição da nossa aceitação por ele no juízo. Em grego a frase "receber para si mesmo" também ocorre em Mt. 1:20 com respeito a José "tomando para si mesmo" a Maria como sua esposa. Assim, ela não se refere, necessariamente, ao movimento físico em direção a Jesus.
Como a recompensa será apenas dada no juízo na volta de Cristo, segue-se que o justo e o ímpio vão para o mesmo lugar quando morrem, i.e. a sepultura. Não há diferenciação entre eles nas suas mortes. O seguinte é prova positiva disto:-
- Jônatas era justo, mas Saul era ímpio, entretanto "na sua morte não se
separaram" (2 Sm. 1:23).
- Saul, Jônatas e Samuel todos foram ao mesmo lugar na morte (1 Sm.
28:19).
- O justo Abraão foi "reunido ao seu povo" , ou ancestrais, na
morte; e eles eram idólatras (Gn. 25:8; Js. 24:2).
- O espiritualmente sábio e o tolo experimentam a mesma morte (Ec.
2:15,16).
Tudo isto está em forte contraste com as declarações do "cristianismo" popular. O seu ensino de que o justo vai imediatamente para o céu ao morrer destrói a necessidade de uma ressurreição e juízo. Entretanto, nós vimos que estes são eventos vitais no plano de salvação de Deus, e por isso estão na mensagem do Evangelho. A idéia popular sugere que uma pessoa justa morre e é recompensada por ir ao céu, sendo seguida por outros no dia seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte. Isto contrasta acentuadamente com o ensino bíblico de que todos os justos serão recompensados juntos, na mesma hora:-
- No juízo as ovelhas estão separadas dos bodes, uma a uma.
Assim que termine o julgamento, Cristo dirá a todas as ovelhas
reunidas à sua mão direita:
"Vinde, benditos de meu Pai, possui por herança o Reino que vos está preparado" (Mt. 25:34). Assim, todas as ovelhas herdam o Reino ao mesmo tempo (cf. 1 Co. 15:52).
- Na "colheita" do retorno e julgamento de Cristo, todos aqueles que labutaram no Evangelho irão "alegrar-se juntos" (João 4:35,36 cf. Mt. 13:39).
- Ap. 11:18 define "o tempo de serem julgados os mortos" como o tempo quando Deus irá "dar recompensa...aos santos...que temem teu nome" - i.e. todos os crentes reunidos.
- Hebreus 11 é um capítulo que relaciona muitos dos homens justos do Velho Testamento. O verso 13 comenta: "Todos estes morreram na fé. Não alcançaram as promessas" feitas a Abraão sobre a salvação quanto a entrar no Reino de Deus (Hb. 11:8-12). Segue-se que na sua morte, aqueles homens não foram, um a um, para o céu receber a recompensa. A razão disto está dada nos versos 39,40: Eles "não receberam a promessa. Deus havia provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados". A demora em dar-lhes a recompensa prometida foi porque era plano de Deus que todos os fiéis "fossem aperfeiçoados" juntos, no mesmo momento. Isto será no juízo, no retorno de Cristo.

O LUGAR DE RECOMPENSA: O CÉU OU A TERRA?

À parte das razões acima, qualquer pessoa que ainda sente que o céu, em vez da terra, será o lugar do Reino de Deus, i.e. a recompensa prometida, também precisa explicar os seguintes pontos:
- A "Oração do Pai Nosso" pede que venha o Reino de Deus (i.e. orando pela volta de Cristo), onde os desejos de Deus serão cumpridos na terra como são no céu (Mt. 6:10). Assim, estamos orando para que o Reino de Deus venha sobre a terra. É uma tragédia que milhares de pessoas oram todo dia sem pensar nestas palavras, enquanto ainda acreditam que o Reino de Deus está totalmente estabelecido agora nos céus, e que a terra será destruida.
- "Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra" (Mt. 5:5) - e não "...porque as suas almas irão para os céus". Isto faz alusão ao Salmo 37, que no todo enfatiza que a recompensa final do justo será sobre a terra. Exatamente no mesmo lugar onde o ímpio desfrutou sua supremacia temporária, o justo será recompensado com a vida eterna, e possuirá esta mesma terra que uma vez foi dominada pelo ímpio (Sl. 37:34,35). "Os mansos herdarão a terra...aqueles que ele abençoa herdarão a terra...os justos herdarão a terra, e habitarão nela para sempre" (Sl. 37:11,22,29). O morar na terra/na terra prometida para sempre significa que a vida eterna no céu é uma impossibilidade.
- "Davi...morreu e foi sepultado...Davi não subiu aos céus" (Atos 2:29,34). Em lugar disto, Pedro explicou que a sua esperança estava na ressurreição dos mortos na volta de Cristo (Atos 2:22-36).
- A terra é o lugar das operações de Deus com a humanidade: "Os mais altos céus são do Senhor, mas a terra deu-a ele aos filhos dos homens" (Sl. 115:16).
- Ap. 5:9,10 relata uma visão do que os justos irão dizer quando forem aceitos perante o trono do juízo: "(Cristo) os fizeste reino e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra". Este quadro da vigência do Reino de Deus sobre a terra é praticamente removido na vaga concepção de que vamos desfrutar da "glória" em algum lugar no céu.
- As profecias de Daniel capítulos 2 e 7 relatam uma sucessão de poderes políticos, que finalmente serão suplantados pelo Reino de Deus no retorno de Cristo. O domínio do reino seria "abaixo de todo o céu", e cobriria "toda a terra" (Dn. 7:27; 2:35 cf. v. 44). Este Reino eterno "será dado ao povo dos santos do Altíssimo" (Dn. 7:27); assim, a sua recompensa é vida eterna no seu Reino que se localiza sobre a terra, abaixo dos céus.

TEM O SER HUMANO RESPONSABILIDADES PERANTE DEUS?

Se o homem tem "naturalmente" uma alma imortal, ele é forçado a ter um destino eterno em algum lugar - seja em um lugar de recompensa ou castigo. Isto indica que todos são responsáveis perante Deus. Em contraste a isto, nós mostramos como a Bíblia ensina que, por natureza, o homem é como os animais, sem qualquer imortalidade inerente. Contudo, para alguns homens é oferecida a perspectiva da vida eterna no Reino de Deus. Deveria ser evidente que nem todos que já viveram irão ressuscitar; como os animais, o homem vive e morre, para se decompor no pó. Entretanto, como vai haver um julgamento, com alguns sendo condenados e outros recompensados com a vida eterna, nós temos que concluir que haverá uma certa categoria entre a humanidade, quanto aos que ressuscitarão para serem julgados e recompensados.
Se alguém será ressuscitado ou não depende de ser considerado responsável no julgamento. A base do nosso julgamento será como respondemos ao conhecimento da palavra de Deus. Cristo explicou: "Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue: a própria palavra que tenho proferido, essa há de julgá-lo no último dia" (João 12:48). Aqueles que não conheceram ou entenderam a palavra de Cristo, e por isso não têm oportunidade de aceitá-lo ou rejeitá-lo, não serão responsáveis no julgamento. "Todos os que sem lei (sem conhecer a lei de Deus) pecaram, sem lei também perecerão, e todos os que sob a lei pecaram (i.e. conhecendo-a), pela lei serão julgados" (Rm. 2:12). Assim, aqueles que não conhecerem os requisitos de Deus vão perecer como os animais; enquanto que aqueles que conhecendo, quebraram a lei de Deus, precisam ser julgados, e por isso ressuscitados para enfrentar o julgamento.
À vista de Deus "o pecado não é imputado não havendo lei"; "pecado é a transgressão da lei (de Deus)"; "pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm. 5:13; 1 João 3:4; Rm. 3:20). Sem conhecer as leis de Deus como revelada na Sua Palavra, "o pecado não é imputado" a uma pessoa, e por isso ela não será julgada ou ressuscitada. Aqueles que não conhecem a Palavra de Deus irão, assim, permanecer mortos, como irão os animais e as plantas, visto que eles estão na mesma posição. "Homem...sem entendimento, é semelhante aos animais que perecem" (Sl. 49:20). "Como ovelhas são destinados à sepultura" (Sl. 49:14).
Ter o conhecimento dos caminhos de Deus nos faz responsáveis perante Ele, com relação às nossas ações, e para isto precisamos ser ressuscitados e comparecer perante o trono do juízo. Deste modo deve-se entender que não é somente o justo ou aqueles batizados que vão ressurgir, mas todos que são responsáveis perante Deus, devido ao seu conhecimento dEle. Este tema é freqüentemente repetido nas Escrituras:-
- João 15:22 mostra que o conhecimento da Palavra traz responsabilidade: "Se eu (Jesus) não tivesse vindo e falado a eles, eles não teriam pecado: mas agora eles não têm desculpa ("cobertura") do seu pecado". Romanos 1:20-21 igualmente diz que o conhecimento de Deus deixa o homem "inescusável".
- "Todo aquele que ouve o Pai, e aprende dele...eu (Cristo) o ressuscitarei no último dia" (João 6:44,45).
- Deus somente "faz vista grossa" das ações daqueles que são genuinamente ignorantes dos seus caminhos. Ele observa e espera uma resposta daqueles que conhecem os Seus caminhos, (Atos 17:30).
- "O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não a soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado (por exemplo, permanecendo morto). A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito se lhe pedirá" (Lucas 12:47,48) - e quanto mais Deus?
- "Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado" (Tiago 4:17).
- A responsabilidade especial de Israel perante Deus estava relacionada com as Suas revelações de Si mesmo a este povo (Amós 3:2).
- Por causa desta doutrina da responsabilidade, "melhor lhes fora (aqueles que acabam se afastando de Deus) não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado" (2 Pe. 2:21). Outras passagens relevantes incluem: João 9:41; 3:19; 1 Tm. 1:13; Os. 4:14; Dt. 1:39.
O conhecimento de Deus nos faz responsáveis perante o trono do juízo, decorrendo que aqueles sem conhecimento não ressuscitarão, uma vez que eles não precisam ser julgados, e que a sua falta de conhecimento os faz "como os animais que perecem" (Sl. 49:20). Existem muitas indicações de que nem todos que já viveram vão ressuscitar:
- As pessoas da antiga nação da Babilônia "não acordarão" após a sua morte porque ignoravam a verdade de Deus (Jr. 51:39; Is. 43:17).
- Isaías encorajou a si mesmo: "Ó Senhor nosso Deus (de Israel), outros senhores têm tido domínio sobre nós (por exemplo os filisteus e babilônios)...Morrendo eles, não tornarão a viver (de novo); falecendo, não ressuscitarão...apagaste toda a sua memória". (Is. 26: .13,14). Observe a ênfase tripla aqui quanto a não serem ressuscitados: "Não tornarão a viver (de novo)...não ressuscitarão...apagaste toda a sua memória". Em contraste, Israel tem a perspectiva da ressurreição por conta do seu conhecimento do Deus verdadeiro: "Os teus mortos (de Israel) viverão, ...a terra lançará de si os mortos" (Is. 26:19).
- Falando sobre o povo de Israel, nos é dito que no retorno de Cristo, "muitos dos que dormem no pó da terra ressurgirão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e o desprezo eterno" (Dn. 12:2). Assim "muitos", mas não todos, dos judeus serão ressuscitados, devido a sua responsabilidade para com Deus como seu povo escolhido. Aqueles que forem totalmente ignorantes do seu Deus verdadeiro "cairão, e não se levantarão mais", visto que eles são incapazes de encontrar "a palavra do Senhor" (Amós 8:12,14).
AGORA APRENDEMOS QUE:
1. O conhecimento da Palavra de Deus traz responsabilidade perante Ele.
2. Somente os responsáveis ressuscitarão e serão julgados.
3. Aqueles que não conhecem o Deus verdadeiro irão, assim, permanecer mortos como os animais.
As implicações destas conclusões batem forte no orgulho humano e o que, naturalmente, nós preferíamos acreditar: os milhões de pessoas, tanto agora como ao longo da história, que têm estado ignorantes quanto a verdade do Evangelho; os doentes mentais severos, que são incapazes de compreender a mensagem da Bíblia; bebês e crianças pequenas que morreram antes de ter idade suficiente para entender o Evangelho; todos estes grupos se incluem na categoria daqueles que não tiveram o verdadeiro conhecimento de Deus, e por isso não são responsáveis perante Ele. Isto significa que eles não ressuscitarão, apesar do status espiritual dos seus pais. Isto corre completamente a contragosto do humanismo e todos os nossos desejos e sentimentos naturais; entretanto, uma humildade à verdade final da Palavra de Deus, acoplada a uma igualmente modesta opinião sobre a nossa própria natureza, vão nos levar a aceitar esta realidade. Um exame sincero dos fatos da experiência humana, mesmo sem a direção da Escritura, também vão levar à conclusão de que não pode haver esperança da vida futura para os grupos mencionados acima.
Nosso questionamento dos caminhos de Deus nestes assuntos está grosseiramente fora de ordem: "Ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?" (Rm. 9:20). Podemos admitir incompreensão, mas nunca devemos acusar Deus de injustiça ou iniquidade. A suposição de que Deus pode ser, de algum modo, não amoroso ou errado, abre a horrível possibilidade de um Deus todo-poderoso, Pai e Criador que trata Suas criaturas de um modo não razoável e injusto. A leitura do relato do rei Davi perdendo o seu filho, ainda bebê, pode ajudar; 2 Sm. 12:15-24 relata como Davi orou muito pela criança enquanto ela vivia, mas ele aceitou realisticamente a definição da sua morte: "Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque pensava: Quem sabe se o Senhor se compadecerá de mim, de modo que viva a criança? Mas agora que é morta, por que jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar?.. Ela não voltará para mim". Então Davi confortou sua esposa, e teve outro filho tão cedo quanto possível.
Finalmente, deve-se dizer que muitas pessoas, ao captar este princípio de responsabilidade para com Deus, sentem que não querem ter mais conhecimento dEle, para o caso de se tornarem responsáveis perante Ele e serem julgadas. Em algum grau é possível que estas pessoas já sejam responsáveis perante Deus, visto que o seu conhecimento da Palavra de Deus os faz conscientes do fato de que Deus está trabalhando nas suas vidas, oferecendo-lhes um relacionamento real com Ele. Sempre deve ser lembrado que "Deus É amor", Ele "não quer que ninguém se perca", e "deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (1 João 4:8; 2 Pedro 3:9; João 3:16). Deus quer que estejamos no Seu Reino.
Tal honra e privilégio inevitavelmente traz responsabilidades. Entretanto, estas não estão planejadas para serem pesadas ou onerosas demais para nós; se realmente amamos a Deus, nós vamos apreciar o fato de que sua oferta de salvação não é uma recompensa automática por certas obras, mas um desejo amoroso da Sua parte para fazer tudo que Ele pode para Seus filhos, para lhes assegurar uma vida eterna de felicidade, pela sua consideração ao Seu caráter maravilhoso.
À medida que valorizarmos e ouvirmos o chamado de Deus para nós através da Sua Palavra, vamos entender que enquanto andamos entre as multidões, Deus está nos vendo com uma intensidade especial, buscando ansiosamente sinais da nossa resposta ao Seu amor, em vez de esperar que falhemos ao viver de acordo com nossas responsabilidades. Aquele olhar de amor nunca está fora de nós; nunca podemos esquecer ou desfazer o nosso conhecimento dEle para perdoar a carne, livres da responsabilidade perante Deus. Em vez disso, nós podemos e devemos nos alegrar na proximidade especial que temos com Deus, e assim acreditar na grandeza do seu amor; que sempre busquemos conhecer mais dEle em vez de menos. Nosso amor pelos caminhos de Deus e desejo de conhecê-lo, para que possamos, com mais precisão, copiá-lo, devem exceder nosso temor natural da Sua suprema santidade.

O INFERNO EXISTE?

A concepção popular de inferno é de um lugar de castigo para as "almas imortais" ímpias direto após a morte, ou o lugar de tormento para aqueles que são rejeitados no juízo. É nossa convicção que a Bíblia ensina que o inferno é a sepultura, onde todos os homens vão ao morrer.
Quanto a palavra em si, o termo original no hebraico "sheol", traduzido como "inferno", significa "um lugar coberto". "Inferno" é a versão aportuguesada de "sheol"; assim, quando nós lemos "inferno"' não estamos lendo uma palavra que foi totalmente traduzida. Biblicamente, este "lugar coberto", ou "inferno", é a sepultura. Existem muitos exemplos onde a palavra original "sheol" é traduzida como "sepultura". De facto, algumas versões modernas da Bíblia poucas vezes usam a palavra "inferno", traduzindo-a mais apropriadamente como "sepultura". Alguns exemplos de onde esta palavra "sheol" é traduzida como "sepultura" já fazem cair por terra a concepção popular de inferno como um lugar de fogo e tormento para os ímpios:
- "Deixa que os ímpios...emudeçam na sepultura" (sheol [Sl. 31:17]) - eles não vão gritar em agonia.
- "Deus remirá minha alma do poder da morte" (sheol [Sl. 49:15]) - i.e. a "alma" ou corpo de Davi seriam ressuscitados da sepultura, ou "inferno".
A crença de que o inferno é um lugar de punição para os ímpios, do qual eles não podem escapar, simplesmente não se enquadra nisto; um homem justo pode ir ao inferno (a sepultura) e voltar. Os. 13:14 confirma isto: "Eu os remirei (o povo de Deus) da violência do inferno (sheol), e os resgatarei da morte". Isto está citado em 1 Co. 15:55 e aplicado à ressurreição na volta de Cristo. Da mesma forma na visão da segunda ressurreição, "a morte e o além deram os mortos que nele havia" (Ap. 20:13). Observe o paralelo entre a morte, i.e. a sepultura, e o inferno (ver também Sl. 6:5).
As palavras de Ana em 1 Sm. 2:6 são muito claras: "O Senhor é o que tira a vida, e a dá (através da ressurreição); faz descer à sepultura (sheol), e faz subir".
Visto que "inferno" é a sepultura, espera-se que os justos serão salvos dela através da sua ressurreição para a vida eterna. Assim, é um tanto possível entrar no "inferno", ou sepultura, e depois sair dele através da ressurreição. O exemplo supremo é o de Jesus, cuja "alma não foi deixada na morte, nem a sua carne viu corrupção" (Atos 2:31) porque ele ressuscitou. Observe o paralelo entre a "alma" de Cristo e a sua "carne" ou corpo. Que o seu corpo "não foi deixado na morte" implica que ele esteve lá por um período, i.e. os três dias em que seu corpo esteve na sepultura. Que Cristo foi ao "inferno" deveria ser prova suficiente de que lá não é um lugar onde só os ímpios vão.
Tanto as pessoas boas como as más vão para o "inferno", i.e. a sepultura. Assim a Jesus, "deram-lhe a sepultura com os ímpios" (Is. 53:9). Alinhado a isto, existem outros exemplos de homens justos indo ao inferno, i.e. à sepultura. Jacó disse que ele "desceria até a sepultura (inferno)...com choro" pelo seu filho José (Gn. 37:35).
É um princípio de Deus que o castigo pelo pecado é a morte (Rm. 6:23; 8:13; Tiago 1:15). Anteriormente nós mostramos que a morte é um estado de completa inconsciência. O pecado resulta em destruição total, não tormento eterno (Mt. 21:41; 22:7; Marcos 12:9; Tiago 4:12), tão certo como as pessoas foram destruidas pelo Dilúvio (Lucas 17:27,29), e os israelitas morreram no deserto (1 Co. 10:10). Nestas duas ocasiões os pecadores morreram em vez de serem atormentados eternamente. Então é impossível que os ímpios sejam castigados com uma consciência eterna de tormento e sofrimento.
Nós também vimos que Deus não atribui o pecado - ou o inclui em nosso registro - se formos ignorantes da Sua palavra (Rm. 5:13). Aqueles que estão nesta posição vão permanecer mortos. Aqueles que reconhecem os requisitos de Deus vão ressuscitar e ser julgados na volta de Cristo. Se ímpios, o castigo que vão receber será a morte, porque este é o julgamento pelo pecado. Assim, antes de comparecer perante o trono do juízo de Cristo, eles serão punidos e vão morrer de novo, para permanecer mortos para sempre. Esta será "a segunda morte", mencionada em Ap. 2:11; 20:6. Estas pessoas terão morrido uma vez, uma morte de total inconsciência. Eles serão ressuscitados e julgados na volta de Cristo, e depois punidos com uma segunda morte, a qual, como a sua primeira morte, será inconsciência total. Esta vai durar para sempre.
É neste sentido que o castigo do pecado é "eterno", uma vez que não haverá fim à morte. Permanecer morto para sempre é um castigo eterno. Um exemplo da Bíblia usando este tipo de expressão encontra-se em Dt. 11:4. Este texto descreve como eterna a destruição definitiva do exército de Faraó por Deus no Mar Vermelho, destruição surpreendente pela qual aquele exército nunca mais causaria problemas a Israel: "Fazendo passar sobre eles as águas do Mar Vermelho...o Senhor os destruiu até o dia de hoje".
Mesmo nos primeiros tempos do Velho Testamento os crentes entendiam que haveria uma ressurreição no último dia, depois da qual os ímpios responsáveis voltariam à sepultura. Jó 21:30,32 é muito claro: "Os maus...serão trazidos (i.e. ressuscitados) no dia do furor...Ele é levado (então) à sepultura". Uma das parábolas sobre a volta de Cristo e o juízo fala do ímpio sendo "morto" na sua presença (Lucas 19:27). Isto dificilmente se encaixa na idéia de que o ímpio existe para sempre em um estado de consciência, recebendo constante tortura. De qualquer forma, este seria um castigo não aceitável - tortura eterna por coisas feitas em 70 anos. Deus não tem prazer no castigo dos ímpios; assim, espera-se que Ele não vai infligir punição sobre eles por toda eternidade (Ez. 18:23,32; 33:11 cf. 2 Pedro 3:9).
A cristandade apóstata geralmente associa "inferno"' com a idéia de fogo e tormento. Isto contrasta com o ensino bíblico sobre inferno (a sepultura). "Como ovelhas são destinados à sepultura (inferno); e a morte se alimentará deles" (Sl. 49:14) faz supor que a sepultura é um lugar de esquecimento pacífico. Apesar da alma de Cristo, ou corpo, ter estado no inferno por três dias, ela não sofreu corrupção (Atos 2:31). Isto seria impossível se o inferno fosse um lugar de fogo. Ez. 32:26-30 dá um quadro dos poderosos guerreiros das nações em volta, deitados em paz nas suas sepulturas: "Os valentes que cairam (na batalha)...os quais desceram ao sepulcro com as suas armas de guerra, e puseram as suas espadas debaixo das suas cabeças?...Estes jazem...com os que desceram à cova". Isto se refere ao costume de enterrar os guerreiros com as suas armas, e descansar a cabeça do defunto sobre a espada. Entretanto esta é uma descrição do "inferno" - a sepultura. Estes homens poderosos deitados, parados no inferno (i.e. suas sepulturas), dificilmente sustentam a idéia de que o inferno seja um lugar de fogo. As coisas materiais (por exemplo, espadas) vão para o mesmo "inferno" que as pessoas, mostrando que o inferno não é uma área de tormento espiritual. Assim Pedro disse a um homem ímpio: "O teu dinheiro seja contigo para perdição" (Atos 8:20).
O relato das experiências de Jonas também contradiz isto. Ao ser engolido por um grande peixe, "Jonas orou ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. Disse ele:...clamei ao Senhor...Das profundezas da sepultura gritei" (Jonas 2:1,2). Isto faz paralelo entre " profundezas do inferno " e as entranhas do peixe. As entranhas do peixe eram, de fato, um "lugar coberto", que é o significado fundamental da palavra "sheol", traduzida como "inferno". Obviamente, não era um lugar de fogo, e Jonas saiu "das entranhas do inferno" quando o peixe o vomitou. Isto aponta adiante, para a ressurreição de Cristo do "inferno" (a sepultura) - ver Mt. 12:40.