20/11/10

NATAL: FESTA PAGÃ, SIM OU NÃO?

Todo o mês de Dezembro oferece uma oportunidade a Igrejas Adventistas em todo o mundo de celebrar o Nascimento de Cristo.

Para muitos, porém, esse período é marcado por consumismo e secularismo.

Mas qual deveria ser a posição adventista frente à celebração do Natal?

Os argumentos contra a celebração do Natal são mais ou menos o seguinte: a data 25 de Dezembro coincide com um festival romano, possivelmente o Sol Invictus, e por isso a celebração do nascimento de Cristo neste dia tem associações com o paganismo e não deve ser celebrada por Cristãos.

Em primeiro lugar, precisamos entender que há divergências quanto à real razão da escolha da data em Dezembro. Alguns argumentam que a data foi escolhida por marcar 9 meses da concepção de Maria, segundo a Festa da Anunciação. Outros ainda acreditam que a data foi escolhida por marcar o solstício do Inverno no hemisfério Norte que torna o dia mais longo, sendo assim um símbolo desejável do Advento de Cristo que traz "luz ao mundo".

Por outro lado, há indícios de que o nascimento do Sol se transformou num símbolo de Jesus para Cristãos na época em que o Natal foi instituído. Factos históricos mostram que a simbologia de Cristo como SOL INVENCÍVEL (Sol Invictus) surgiu no cristianismo já no ano de 250 a.D., como pode ser vista em uma pintura descoberta nas ruínas de um mausoléu sob a Catedral de São Pedro no Vaticano.

Essa prática parece ter-se baseado em Malaquias 4:2:

"Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; e vós saireis e saltareis como bezerros da estrebaria."

Esse simbolismo de Jesus Cristo como o Sol Invictus se deve possivelmente ao fato de que os cristãos fiéis na época do surgimento do Natal (3-4 Séculos) viviam em constante conflito com o estabelecimento romano e muitos desses símbolos, em vez de representar um sincretismo religioso, proviam na realidade uma contrafacção cristã à simbologia idólatra romana.

O Natal foi instituído com o único objectivo de celebrar a Natividade. A acusação de sincretismo religioso não tem força.

Por isso, creio que a rejeição das celebrações de Natal devido a supostas "origens pagãs" carece de base histórica. E mesmo que houvesse essas associações periféricas, o argumento ainda estaria baseado na falácia lógica da culpa por associação, ou seja, se a data da celebração do Natal coincide com uma festa pagã, então, essa associação com o paganismo desqualifica o Natal.

Há também outra falácia lógica aí, a "falácia genética" em que a origem de certa afirmação (ou evento) aprova ou desaprova a sua validade. Por exemplo, José diz que 1+1=2; os meus pais dizem que 1+1=666; José está errado porque acredito nos meus pais.)
A argumentação contra o Natal continua a dizer que, porque ele foi instituído pela Igreja Católica, aceitá-lo seria como aceitar a guarda do domingo. Mas vejamos que o Cânon Sagrado também foi preservado pela Igreja Católica e finalizado ao redor do mesmo tempo do estabelecimento do Natal. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitar a Bíblia por suas associação com o catolicismo?


Os símbolos têm o significado que lhes damos.

A Bíblia tem vários exemplos de símbolos pagãos que foram usados para expressar verdades eternas, como a serpente no deserto que era símbolo de um Deus egípcio e símbolo do Dragão (Apo. 12) mas que Deus usou como símbolo de Cristo (João 3:14). A cruz era símbolo de tortura e opressão pelos romanos mas Deus a usou para realizar a expiação. O uso cristão desses símbolos modificou as suas conotações.

Invertendo um pouco a analogia, o arco-íris foi usurpado pelo movimento homossexual e tem hoje fortes associações pagãs. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitar o arco-íris como um símbolo da promessa divina por causa dessa associação?

É certo que a Bíblia não revela a data do nascimento de Cristo e muitos se apegam a isso também para rejeitar o Natal. Mas não temos na Bíblia tão pouco uma condenação de celebrações da Natividade. Saber a data é irrelevante, pois comemoramos o evento e não uma data! Quem sabe Deus velou a data para nos concentrarmos justamente no evento, já pensou nisso?

Aliás, a grande celebração que houve no céu e na terra naquela ocasião autoriza os cristãos em todo o mundo a repetir o "cântico de Belém". Veja:

"Glória a Deus nas alturas,
Paz na Terra, boa vontade para com os homens." Luc. 2:14.

Quem dera que a família humana pudesse hoje reconhecer este cântico! A declaração então feita, a nota vibrada então, avolumar-se-ia até ao fim do tempo, e ressoaria até aos extremos da Terra. Quando se erguer o Sol da Justiça, trazendo salvação sob Suas asas, esse cântico há de ecoar pela voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, dizendo: "Aleluia, pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina." Apoc. 19:6.
A história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as "profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus". Rom. 11:33." (O Desejado de Todas as Nações, p. 48)

Veja como E. G. White também usa a analogia do nascimento do Sol ao falar do nascimento de Cristo!

"A nota vibrada então, avolumar-se-á até ao fim do tempo, e ressoará até aos extremos da Terra." A menos que eu e você façamos essa nota angélica soar o som desse hino morreu 2.000 atrás! Nós somos as vozes desse anjos para as pessoas HOJE!

Como celebrar na Igreja?

Estatísticas demonstram que o Natal é o período do ano em que as pessoas se acham mais abertas a assuntos espirituais. Temos aí uma oportunidade fantástica de testemunhar. O ideal então seria celebrar TODO o mês de Dezembro como um período de festa espiritual, não necessariamente só o dia 25 de Dezembro.
Não devemos desperdiçar essa oportunidade com discussões fúteis e falaciosas sobre o "paganismo" do Natal. Façamos do Natal um evento Cristão porque Cristo é o centro!

Muitos dos comentários de adventistas contra o Natal em blogs e fóruns exalam um azedume injustificável contra as celebrações Natalícias. Alguns até chamam o período de "maldito Natal". No mesmo capítulo do Desejado, E.G. White também revela a atitude de Satanás para com o nascimento de Cristo:

"Satanás aborrecera a Cristo no Céu, por causa de Sua posição nas cortes de Deus. Mais O aborreceu ainda quando se sentiu ele próprio destronado. Odiou Aquele que Se empenhou em redimir uma raça de pecadores. (DTN 49)

Creio que corremos o risco de cair no mesmo espírito do inimigo ao nos opormos ao Natal com um "engano satânico" apesar de toda a beleza do seu significado cristão. Também não é cristão impor os nossos devaneios sobre o paganismo sobre irmãos que querem nesse período celebrar a Cristo de uma forma especial.

Há quem defenda o Hanukkah como uma festa que Jesus possivelmente aprovaria neste período, pois ele teria participado dela quando criança. A dificuldade em aceitar essa ideia é que primeiramente não há provas que Jesus tenha realmente participado de tal festa (veja João 10:22-24); mas independente desse detalhe, é difícil conceber que Jesus preferiria celebrar uma festa judaica pré-cruz que era uma mera "sombra" dele próprio em detrimento da celebração da sua própria encarnação! O Hanukkah para os judeus hoje também significa "liberdade religiosa" e é mais uma declaração política do que espiritual.

Qual deveria ser a nossa atitude para com o Natal? Deveríamos nós adventistas rejeitar o Natal por origens pagãs?

Não, pois não há na celebração da Natividade "origens pagãs". Apesar de o Natal possivelmente coincidir com outras datas seculares, em si, ele celebra um evento profundamente Cristão, a encarnação de Jesus Cristo. O EVENTO celebrado é que cristianiza a data.

Alguns acham que o Natal pode ser celebrado mas de maneira diferente: não deveria ser celebrado na Igreja, para os "santos" e sim fazendo obras de caridade, cuidando de enfermos, mendigos, etc.

Sem dúvida, Jesus foi o "servo dos servos" e celebrá-lo deveria levar-nos ao serviço. Portanto, vamos fazer o bem neste período pois as pessoas estão abertas a isso: acções de caridade no Natal, ministérios pessoais, beneficência cristã, convidar “sem abrigos” para a nossa casa e dar-lhes um bom jantar, porque não?

Confesso que não me recordo dos meus pais celebrarem o Natal. Nem tão pouco no meu lar o celebramos para além duma festa de família. Não me importo de dizer que nunca dei presentes a ninguém neste dia e se me ofereceram, foram pares de meias. Presentemente, como não dou os meus familiares também não me dão e fazem muito bem!
Confesso ainda, que me encanta assistir a celebrações de Natal na igreja, gosto de ouvir coros, grupos e solos que louvem a Jesus. Recordo na igreja Adventista de Canelas de se realizarem grandes concertos de música espiritual e os irmãos virem assistir com os seus familiares e amigos, que testemunho!

Tudo depende de COMO o celebramos:

Se nos ajoelhamos perante os deuses consumistas desse século, ele será pagão e secular.

Se nos ajoelhamos ao pé da manjedoura e contemplamos o mistério da encarnação, faremos de Cristo o centro!

Espero que o seu Natal seja um período de luz, paz e ESPERANÇA!