26/06/13

Quem é Jesus Cristo na opinião dos anjos?

Há um texto nas Escrituras que me chama muito a atenção que é Lucas 2, onde vemos alguns acontecimentos referentes ao nascimento de Jesus Cristo. Em Lc 2.8-9 temos uma declaração interessante: “Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles e ficaram aterrorizados.” Talvez um dos grandes indicativos de que Jesus não tenha nascido no dia 25 de Dezembro esteja neste verso, por que pastores estavam durante a noite cuidando de suas ovelhas, o que sugere que não era inverno nessa região. Ou seja, certamente não era 25 de Dezembro.
Mas, mais importante do que essa referência à época em que eles poderiam estar ali, há um fato acontecendo que marca esta narrativa: um anjo do Senhor aparece a esses pastores durante a noite e lhes dá um recado ( Lc 2.10): “Mas o anjo lhes disse: Não tenham medo. Estou trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo.”
Havia uma novidade acontecendo ali. Perto deles ou num campo próximo como dizem as Escrituras, algum fenómeno diferente estava acontecendo e era uma notícia boa e uma notícia nova. Essa mensagem era de grande alegria para todo o povo, conforme diz em Lc 2.11: “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é o Cristo, o Senhor.” Diante desta afirmação, considerando Jesus Cristo como aquele que está nascendo ou acabara de nascer ou nasceria a pouco tempo a partir deste recado, quem nós podemos entender que é Jesus Cristo? Considerando que Jesus Cristo é a figura central desse feriado familiar, quem é este bebé na visão desse anjo?
 
1. Ele é o Cristo
Lc 2.11; Sl 105.15; 1Sm 26.9; Is 45.1; Jo 1.41; Jo 1.45; Gn 3.15; Dt 18.15; 2 Sm 7.12-17; Is.9.6; Lc.1.68-70; Mt 2.2; Mt 2.4
 
Eu chamo a sua atenção para o fato de que o texto diz que “Ele é o Cristo”. Normalmente olhamos para um texto como este: “hoje vos nasceu na cidade de Davi” e entendemos isso como parte de uma

Quem foi Jesus Cristo na opinião de Justino Mártir?

Justino veio de uma família não judaica de língua grega que vivia em Flávia Neápolis (Siquém) em Samaria (GRANT, Robert M. Greek Apologists of the Second Century. SCM, 1988), 50; MARTIR, Justino, 1 Apology 1.1; IN:ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 1, pp.163). Ele escreveu sobre como procurou a verdade, dedicando-se a uma sucessão de escolas filosóficas: o estoicismo, o aristotelismo, pitagorismo e platonismo. (Dialogue, pp.195). Em toda sua busca, Justino não tinha se mostrado satisfeito, até que encontrou um homem idoso que caminhava na praia em Éfeso que demonstrou algumas falhas no sistema platônico que adotava.
Esse homem apresentou como o Antigo Testamento, escritos dos antigos profetas que vieram antes dos filósofos, apontava a vinda do Messias, mas isso ainda não o havia convencido. O que realmente impactou a vida de Justino foi a coragem dos mártires, que preferiam morrer a negar sua fé (Second Apology, 12.2; pp.192). Em suas palavras, Justino atestou que seu “espírito foi imediatamente posto no fogo e uma afeição pelos profetas e para aqueles que são amigos de Cristo” tomou conta do seu coração, e concluiu: “descobri que a única filosofia segura e útil” era a de Cristo. Isso aconteceu em cerca de 130 dC. Ainda vestindo sua roupagem filosófica, Justino dedicou sua vida a defesa do cristianismo ortodoxo contra seus adversários filosóficos.

Justino usava extensivamente a alegoria em seus escritos, mas era a alegoria dos rabinos palestinos ao invés de a alegoria Alexandrina de Filo. Dado que Justino nasceu em Samaria, isso não é realmente surpreendente. Para ele, a chave para se entender o Antigo Testamento era Cristo e sua interpretação cristocêntrica significava que o significado dos escritores originais foi considerado secundário.
É importante demonstrar esses dois aspectos da visão de Justino, pois muitos dos seus leitores mais tardios têm a tendência de não tê-lo em credibilidade em função de sua linguagem filosófica e/ou de sua visão interpretativa. Entretanto, devemos dizer que alguém com a formação de Justino, escrevendo contra adversário filosóficos, era de se esperar que usasse não apenas da filosofia, mas da mitologia que a cercava para defender a verdade cristã. É verdade que em alguns casos, as analogias e comparações de Justino não são adequadas, mas como um exemplo antigo de apologética da fé cristã.
A maioria dos estudiosos concorda que Justino foi prolixo, confuso, incoerente e muitas vezes não convincente em sua argumentação. No entanto, ele é uma figura importante na história da Igreja. Para ele, o cristianismo era, do ponto de vista teórico, a verdadeira filosofia, e, do ponto de vista da prática, uma nova lei de uma santa vida e morte. Justino argumenta o primeiro ponto de vista abertamente em suas Apologias, e o segundo em seu Diálogo com Trifo. Sobre a fé cristã, Justino escreveu:
“Nossas doutrinas são claramente mais sublimes do que qualquer ensinamento humano nesse aspecto: o Cristo que apareceu para nós seres humanos se tornou o ser racional completo, corpo e razão e alma. O que quer que os advogados ou filósofos tenham dito com propriedade, foi articulado mediante a descoberta e a reflexão relativa a algum aspecto do Logos. Entretanto, uma vez que eles não conheciam o Logos— que é Cristo — em sua totalidade, eles frequentemente se contradiziam” (Second Apology, 10, pp.191)
Sobre Cristo, a visão de Justino é claramente perpetrada pela visão neotestamentária de que Cristo é de fato Deus, e Justino se refere diretamente a esse fato cerca de 20x em toda sua obra. Segundo Justino, os cristãos adoram apenas a Deus, e defende que Jesus deva ser incluído nessa adoração, afinal é Deus feito homem e único Filho de Deus (First Apology, 17,4, pp.170). Ele atesta que Cristo é o Verbo de Deus e por isso é Deus mesmo (First Apology, 63, pp.184)
No Diálogo com Trifão, Justino afirma que Jesus Cristo é chamado de Deus e Senhor dos Exércitos (36, pp.212), que sempre foi Deus, mesmo antes da criação de todas as coisas (56, pp.223), a verdadeira palavra de sabedoria, o Deus gerado do Pai (61, pp.227) que merece ser adorado como Deus e Cristo (58, pp.225). Em sua primeira defesa da fé, Justino claramente atesta:
“Nós vamos provar que nós o adoramos racionalmente, pois aprendemos que ele é o verdadeiro Filho de Deus, Ele mesmo, que detém o segundo lugar, e o Espírito o terceiro. Por isso, eles nos acusam de loucura, dizendo que nós atribuímos a um homem crucificado o segundo lugar em reação ao Deus eterno e imutável, Criador de todas as coisas, mas eles ignoram o mistério que ai está” (First Apology, 13.5)
Esse cristão antigo também demonstra claramente ter conhecimento do evangelho segundo apresentado pelas escrituras, o que sugere mais uma vez que a expansão do cristianismo ocorreu rapidamente pelo mundo antigo e que é mais uma vez impossível que essa propagação se deva a uma invenção tardia da pessoa de Cristo.
Entretanto, à medida que nos aproximamos dos escritores cristãos, mais percebemos o peso do evangelho em sua cosmovisão e o fato de é impossível para eles considerar sobre a pessoa de Cristo sem vê-lo como Deus, Senhor e Salvador. Para os críticos, isso é evidência de que os cristãos antigos não estavam preocupados com sua historicidade, entretanto, o que os críticos não entendem é que não é possível separar historicidade de veracidade. A verdade sobre Cristo não o isenta da historicidade, na bem da verdade, Jesus Cristo é historicamente o que é verdadeiramente para os cristãos. Ou seja, a representação de Cristo como Deus e Senhor é diretamente relacionada com sua existência terrena e humana, de tal modo que são inseparáveis.

Quem é Jesus Cristo na opinião de Policarpo (59-155dC)?

Policarpo é lembrado influente Pai Apostólico e bispo de Esmina no segundo século, que morreu martirizado nas mãos do Império Romano aos oitenta e seis anos (MarPol.9.3), segundo o antigo documento cristão chamado O Martírio de Policarpo. Irineu afirma que o teria ouvido falar quando era ainda criança e o descreve do seguinte modo:
“Eu tenho mias vívida do que ocorreu naquela época do que dos eventos recentes (na medida em que as experiências da infância, acompanhando o crescimento da alma, se tornam incorporadas com ela), de modo que eu consigo descrever o local onde o abençoado Policarpo costumava sentar-se e ensinava – também sua saída e sua entrada – seu modo de vida geral e aparência pessoal, juntamente com os discursos que ele fez ao povo e também de como ele fala de sua relação familiar com João, e com o resto das pessoas que tinham visto o Senhor, e como se lembrava das palavras deles” (Irineu, Fragments of lost Works of Irinaeus, cp.2; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 1, pp.568)

Tertuliano, defendendo a credencial de representante dos apóstolos e consequentemente sua autoridade, também afirma que Policarpo fora discípulo de João (Tertuliano, Presciption against heretics, 32.2; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 2, pp.258) confirmando a semente apostólica carregada por Policarpo. Inácio de Antioquia, que também fala sobre Policarpo, o apresenta como o bispo de Esmirna (InMag.15.1; InPol.1.1) a quem chama de amado (InEf.21.1) e grandemente abençoado (InPol.7.2).
No livro O Martírio de Policarpo diversos adjetivos lhe são conferidos: abençoado (1.1; 19.1; 21.1; 22.1; 22.3); admirável (5.1; 16.2); cristão confesso (10.1; 12.1); ilustre professor (19.1); mártir por causa do evangelho (19.1) e claramente convicto das verdades do evangelho. Na história desse documento, Policarpo é convidado a abandonar a Cristo, caso contrário seria executado. Ele responde que não poderia blasfemar contra seu Salvador e Rei a quem servia a oitenta e seis anos, e mantém sua postura como verdadeiro Cristão. O procônsul vendo sua “obstinação” lhe apresenta o poder que tem de soltar as feras sobre ele ou de coloca-lo a ser queimado. Entretanto, Policarpo não hesita e a essa proposta responde:
“Você me ameaça com o fogo que queima por algumas horas e depois de pouco tempo é extinguido, mas não conhece o julgamento futuro, o castigo eterno, reservado para os maus. Mas, o que o impede? Faça o que quer fazer” (11.2)
Policarpo foi sempre lembrado como um exemplo de cristão fiel e, como discípulo pessoal de João, também é considerado como fonte adequada para se buscar informações sobre quem Jesus Cristo é. Por isso, vamos observar a única carta conhecida sob seu nome conhecida como a epístola de Policarpo aos filipenses, e veremos que a visão de Policarpo sobre Jesus Cristo é claramente endossada pelas escrituras.
Em sua carta, Policarpo se refere diretamente a Jesus como Cristo 15 vezes (1.1 x2; 2, 3; 2.1; 3.3; 5.2, 3; 6.2; 7.1; 8.1; 12.2 x3; 14.1), embora tenha o costume de referir-se a Ele como Jesus Cristo. Policarpo também se refere com frequência a Cristo como Senhor(1.1,2 ;2.1; 6.2; 12.2) e o considera como Salvador (1.1). Provavelmente Policarpo está lidando não apenas com a incredulidade, mas com a heresia avançando a igreja de tal modo que se põe a responder questões diretamente relacionadas com a doutrina de Cristo, observe:
“Por que aquele que não confessa que Jesus Cristo tenha vindo em carne é o anticristo; e ainda, o que não confessa o testemunho da cruz, pertence ao Diabo, e ainda, os que pervertem os oráculos do Senhor de acordo com sua própria cobiça, e diz que não há nem ressurreição nem julgamento, esse é o primogênito de Satanás” (7.1)
Com essas palavras, ele convida os cristãos a se abster da vaidade de muitos e dos seus falsos ensinamento e os convida a retornar a palavra que lhes foi entregue desde o princípio. Nos chama a atenção o fato de que ele cita integralmente o texto de 1Jo.2.22, que fala sobre a verdadeira humanidade de Cristo, mas também apresenta outros problemas relacionados à Sua pessoa e mensagem, afinal, negar sua morte na cruz é um claro indicativo de pertencimento ao Diabo.
Para Policarpo a morte de Cristo é um fato importante par a verdadeira fé cristã de tal modo que aqueles que negam sua morte, ou se mantém incrédulos à sua veracidade, serão cobrados pelo sangue de Cristo (2.1). Com essas palavras Policarpo ensina, de certo modo, que todos os seres humanos são culpados pela morte de Cristo e que aqueles que não receberem tal dádiva serão condenados por isso.
Outro aspecto importante para Policarpo é a verdade de que Cristo ressuscitou, e como vimos, ele parece lutar contra aqueles que atestam não haver ressurreição nem julgamento, mas ele a esses, e a todos os cristãos, que o Cristo que morreu na cruz (7.1; 2.1) ressuscitou verdadeiramente (1.2; 2.1) e virá julgar a todos (2.1; 6.2). Ele é o Mediador entre Deus e os homens (1.3) glorificado e assentado à direita do Pai (2.1), também chamado de perfeito (sem mácula 8.1), eterno sumo-sacerdote (12.2) e verdadeiro Filho de Deus, a quem os diáconos devem servir sem mácula (5.2).
Dentre todas as descrições a respeito de Cristo que Policarpo apresenta, apenas uma vez ele alude a Jesus Cristo como Senhor e Deus:
“E se nós suplicamos ao Senhor para nos perdoar, também nós devemos perdoar, pois estamos diante dos olhos do nosso Deus e Senhor, e porque todos devemos comparecer no tribunal de Cristo, e cada um deve prestar contas de si mesmo” (6.2)
Mais uma vez, vemos um testemunho antigo em extrema consonância com o relato das escrituras, o que sugere que a conexão apostólica de transmissão das verdades de Cristo, continuou firme. Como um relato cristão, Policarpo nos oferece mais um local distante dos acontecimentos da palestina, que afirma exatamente o que aqueles que estiveram lá afirmaram.